Um monte de caracteres. Pra dar preguiça de ler.

sábado, 13 de setembro de 2008

Os limites da webradio

A tecnologia vem se fazendo cada vez mais presente no cotidiano das pessoas. As facilidades proporcionadas pelas novidades tecnológicas são tantas, que garantem a aceitação massiva dessas novas tecnologias. Com isso, a sociedade passa por mudanças profundas, num momento que pode ser considerado a “Era da Conexão”. Estamos no início de uma era que promete ser caracterizada pela interconexão generalizada. Tudo e todos estarão cada vez mais conectados à rede. A Internet veio para modificar completamente as nossas formas de interagir com o mundo e com as pessoas. É preciso existir na Internet para existir pro mundo. E foi essa constatação que levou milhares de empresas a construírem suas páginas na rede.

Os veículos de comunicação trataram de providenciar páginas que pudessem dialogar com seu suporte midiático original. Porém, já podemos afirmar que a vida vai se transferir para os ambientes da rede em todos os aspectos. A rede se tornará onipresente e sua existência será esquecida pela sociedade, que usufruirá naturalmente das vantagens oferecidas por esse novo sistema. O maior impacto causará mudanças nas relações humanas, o aperfeiçoamento do trabalho e a redução de tempo e custos. As páginas dos veículos de comunicação, que anteriormente ofereciam uma espécie de bônus ao suporte original, agora tendem a valorizar mais a rede enquanto suporte. Com isso, surgiu a produção de conteúdo exclusiva para os ambientes da Internet. Podemos encontrar vídeos, áudios e textos, assim como também podemos publicá-los na rede, sem grandes dificuldades burocráticas. O computador se tornou o eixo central das atividades humanas. Por isso é extremamente conveniente se fazer acessível ao computador. E foi nessa conjuntura que surgiram as webradios, assim como diversas outras possibilidades de entretenimento e informação on-line: TV, jornais, jogos, etc.

A rádio na Internet oferece maior possibilidade de segmentação, que atende às exigências do mercado publicitário, pois é possível transmitir várias programações diferentes simultaneamente. Enquanto a radiodifusão brasileira é controlada basicamente por igrejas, políticos e grandes empresários, que conquistam suas concessões através da influência, a webradio acontece livremente, não exige concessão e é relativamente fácil de ser criada por qualquer um.

No caso do jornalismo, a Internet oferece vantagens e desvantagens. Apesar de democrática e de disponibilizar uma ampla gama de conteúdos, já que qualquer um pode divulgar qualquer conteúdo na rede, não há a menor garantia de que haverá retorno, de que o material será acessado. Todo mundo pode publicar, mas nem tudo será lido. Essa amplitude de conteúdos diversos representa uma desvantagem, pois existem milhares de conteúdos disponíveis e não há como determinar quais são os mais adequados ao leitor, nem a veracidade dos seus conteúdos. Esse fim da hierarquização, assim como a saturação de informação, provoca uma queda na credibilidade.

A relação emissor-receptor é essencialmente diferente entre rádios hertzianas e webradios. A relação emissor-receptor mediada por uma rádio hertziana é passiva, na medida em que o fluxo de comunicação segue de forma unidirecional. No caso da webradio, o receptor também atua na interação, provocando uma troca de conhecimentos entre os grupos envolvidos.

Apesar de representar um ambiente livre e democrático, a Internet ainda é um espaço freqüentado diariamente por pessoas com maiores níveis educacional e de renda (fato que determina um público qualitativo). O Brasil possui atualmente cerca de 20 milhões de internautas. O crescimento da quantidade de usuários é cada vez maior e mais rápido, mas ainda há um longo caminho a percorrer, visto que cerca de 65% da população nunca acessou a Internet e apenas cerca de 15% dos domicílios têm acesso à rede.

"A presença da web na vida da sociedade brasileira tem provocado intensos debates e questionamentos acerca da mudança de padrões, da inversão de valores e até da própria sobrevivência de instituições milenares como a família, a amizade ou o casamento. Aos poucos, a internet vai mudando hábitos antes arraigados no cotidiano da população, como na forma de ouvir rádio, fazer amigos, bater papo, namorar, estudar e consultar bibliotecas, já que tudo isso agora se faz navegando pela rede." (PRATA, 2008)

Também vale ressaltar que a Internet está conquistando o público da TV. A migração para a Internet como principal atividade de lazer tem sido cada vez mais intensa. Essa transição rápida preocupa alguns governos e entidades, já que a web é uma área totalmente livre. Isso provoca intensos debates sobre a legitimidade da censura na Internet, que é fortemente defendida por uns e rejeitada por outros.

A usabilidade é um ponto fundamental no que diz respeito à aparência da página onde a webradio (ou qualquer outra homepage) está hospedada. A página deve ser prática, intuitiva, confortável e bonita para deixar o usuário confortável ao acessá-la. Existem estudos aprofundados sobre a questão da usabilidade e eles devem ser levados em consideração ao elaborar uma homepage. O usuário precisa se sentir confortável ao acessar uma página para se manter navegando por ela e repetir o acesso posteriormente.

O rádio sempre foi um veículo de fácil acessibilidade, pois exige apenas a audição do receptor. No caso da webradio, o conteúdo auditivo pode ser complementado por imagens, textos, ou vídeos, que representam elementos adicionais, mas não interferem no sentido da experiência auditiva, que é a essência do rádio. Embora haja uma ampliação das possibilidades de recursos, o rádio precisa acontecer, enquanto experiência completa e coerente, através apenas do sentido da audição.

Enquanto o rádio comum acontece através da transmissão hertziana, orientada através de concessões cedidas pelo governo, a webradio possui suas próprias características. São elas:
1. existência exclusivamente na Internet;
2. linguagem oral, cada vez mais complementada por elementos multimídia;
3. suporte fixo, característica momentânea, pois já estão sendo fabricados receptores de webradios, ligados à Internet;
4. baixo custo para sua existência e em pouco tempo seu acesso será de baixo custo também, com a massificação de receptores ligados à Internet;
5. transmissão em tempo real, de programações simultâneas alternáveis;
6. possibilidade de acesso às transmissões anteriores;
7. apelo sensorial estritamente auditivo;
8. autonomia, que permite a experiência individual da audição e permite que o emissor fale com o público como se tivesse falando em particular.

Ainda em fase de transição, já podemos esboçar os principais pressupostos desse novo modelo de radiodifusão: transmissão digital (através de bits, em vez de ondas), interatividade constante (o usuário é ativo: produz, procura e consome), menor fidelidade do público (resultado da multiplicação de opções e da segmentação) e possibilidade do uso ou transmissão de imagens e texto.

Apesar do próprio modelo não favorecer a massificação de uma determinada webradio, a própria tecnologia ainda não permite isso, pois a quantidade de ouvintes simultâneos ainda é limitada pelo servidor. O fator multimídia oferece recursos extras, como a imagem ilustrativa de uma determinada notícia narrada, ou as informações sobre a faixa musical executada, entre as mais variadas possibilidades.

Porém, existe o risco da vasta gama de possibilidades saturar a transmissão, que deve ser essencialmente radiofônica. E esta condição seria desfavorável à webradio, que poderia ser deixada em segundo plano no meio de diversos recursos a ela associados.

Na questão conceitual, as mudanças são tão profundas que geram dúvidas quanto à legitimidade do modelo radiofônico. Questiona-se se as novas tecnologias podem ser enquadradas enquanto radiofonia ou se constituem uma nova mídia ainda sem definição. As tendências convergentes são evidentes e estamos nitidamente caminhando para a era do tele-tudo (equipamentos definidos por André Lemos como tecnologias que vão unir telefone, TV, rádio, câmera, Internet, entre outros recursos). Porém, ainda podemos determinar limites pro que é considerado radiofonia.

"Meio de comunicação que transmite informação sonora, invisível, em tempo real. A informação sonora poderá vir acompanhada de textos e imagens, mas estes não serão necessários para a compreensão da transmissão." (PRATA, 2008)

Essa definição exclui os Podcasts, os iPods e qualquer transmissão que não seja feita em tempo real. Portanto, podemos concluir que a webradio é a comunicação que se concretiza através do áudio (podendo contar com recursos extras), produzida através da tecnologia digital, transmitida em tempo real por meio da Internet. Essa nova tecnologia reflete a migração das atividades humanas e sociais para os ambientes da Internet, provocadas por diversas vantagens e facilidades oferecidas pela rede. A tendência geral é de convergência de mídias e expansão da Internet para todos os setores da vida humana, de forma que ela se integre de tal maneira ao cotidiano que não possa mais ser dissociada e se torne um recurso natural e comum. A webradio, resultado da fusão do rádio com a Internet, é um dos primeiros passos que marcam essa fase de transição. Não há como prever as conseqüências de todas essas mudanças, mas podemos afirmar que a humanidade nunca mais será a mesma.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

KUHN, Fernando. O rádio na Internet: rumo à quarta mídia. Campinas-SP: Dissertação de mestrado da Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes, 2000.

LEMOS, André. Cidade-ciborgue. A cidade na cibercultura.

LEMOS, André. Cibercultura e mobilidade: a era da conexão. In: RAZÓN Y PALABRA. Out/Nov 2004.

PRATA, Nair. Webradio: novos gêneros, novas formas de interação. Belo Horizonte: Tese de Doutorado da Faculdade de Letras da UFMG, 2008.

Artigo elaborado para pesquisa coletiva sobre webradio

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