Um monte de caracteres. Pra dar preguiça de ler.

domingo, 14 de setembro de 2008

Ecos Falsos visitam o Rio

Sábado passado, saí do show do Hives (Orloff Five - Via Funchal) aliviada por ter tido a oportunidade de ver novamente um show que prendesse a minha atenção do começo ao fim. Na minha humilde opinião (um tanto prepotente, por sinal), uma experiência desse tipo só vale a pena quando o espetáculo te pega por completo, você perde a consciência de si por alguns momentos e se entrega totalmente à experiência oferecida. Por uns tempos, cheguei a achar que isso era coisa de criança e que a idade me impedia de viver essa entrega. Talvez eu tenha mesmo criado calos e tenha me tornado mais exigente. Mas aconteceu de novo.

A recente redescoberta pelos prazeres da música acabou me levando ao Cine Lapa ontem. A atração da noite era o Ecos Falsos, banda de São Paulo. Já tinha alguns MP3's deles aqui no PC e isso era suficiente para dar moral pros caras, pois eu não cheguei a deletar os arquivos. Logo de cara, já percebi que os meninos se vestem direitinho. Têm aquela preocupação em construir um visual casual. Começa o show. O som da casa ajuda - quando os graves não soam excessivos. A partir daí, é rock 'n roll agitado, bem feito e divertido. Os timbres são agradáveis: agudos explorados pelas guitarras e pelos pratos da bateria. E o baixão segurando a onda. Além da boa música, o carisma segura a banda nos momentos de intervalo pra trocar de instrumento ou pra dar aquela afinadinha na guitarra. Intervalos, aliás, frequentes. Os caras sassaricam pelo palco ao longo do show, trocando de posições e instrumentos. A comissão de frente (leia-se: a galera das cordas) alterna os vocais e, com isso, todos acabam conversando com o público. Piadinhas inteligentes ou infames e discurso firme e bem construído. Provavelmente trata-se de mais uma banda de comunicadores sociais. Essa suposição ganhou forças quando o público foi convidado a se aproximar do palco para pegar brindes gratuitos - sob um humor sutil e simpático. Hipnotizada pela persuasão (usar a palavra "brinde" e "grátis" na mesma frase é capaz de provocar reação até dos mais durões), fui buscar meus brindes na beira do palco: um adesivo e um... santinho?!?!?! E começaram a tocar " O bom amigo Inibié". Na parte de trás do folheto, onde deveria haver uma oração, a letra da música. Genial! De uma forma geral, o show foi recheado por músicas divertidas e bem executadas, por músicos bem entrosados e com uma boa postura de palco, e tiradinhas de bom gosto. Deu até pra sentir a felicidade do baterista brincando com a bateria eletrônica (que, segundo eles, era novidade). Os pontos altos da noite foram: "A revolta da musa", a cover do We Are Scientists e "Reveillon". Aprovadíssimos!

Resenha de fã

sábado, 13 de setembro de 2008

Os limites da webradio

A tecnologia vem se fazendo cada vez mais presente no cotidiano das pessoas. As facilidades proporcionadas pelas novidades tecnológicas são tantas, que garantem a aceitação massiva dessas novas tecnologias. Com isso, a sociedade passa por mudanças profundas, num momento que pode ser considerado a “Era da Conexão”. Estamos no início de uma era que promete ser caracterizada pela interconexão generalizada. Tudo e todos estarão cada vez mais conectados à rede. A Internet veio para modificar completamente as nossas formas de interagir com o mundo e com as pessoas. É preciso existir na Internet para existir pro mundo. E foi essa constatação que levou milhares de empresas a construírem suas páginas na rede.

Os veículos de comunicação trataram de providenciar páginas que pudessem dialogar com seu suporte midiático original. Porém, já podemos afirmar que a vida vai se transferir para os ambientes da rede em todos os aspectos. A rede se tornará onipresente e sua existência será esquecida pela sociedade, que usufruirá naturalmente das vantagens oferecidas por esse novo sistema. O maior impacto causará mudanças nas relações humanas, o aperfeiçoamento do trabalho e a redução de tempo e custos. As páginas dos veículos de comunicação, que anteriormente ofereciam uma espécie de bônus ao suporte original, agora tendem a valorizar mais a rede enquanto suporte. Com isso, surgiu a produção de conteúdo exclusiva para os ambientes da Internet. Podemos encontrar vídeos, áudios e textos, assim como também podemos publicá-los na rede, sem grandes dificuldades burocráticas. O computador se tornou o eixo central das atividades humanas. Por isso é extremamente conveniente se fazer acessível ao computador. E foi nessa conjuntura que surgiram as webradios, assim como diversas outras possibilidades de entretenimento e informação on-line: TV, jornais, jogos, etc.

A rádio na Internet oferece maior possibilidade de segmentação, que atende às exigências do mercado publicitário, pois é possível transmitir várias programações diferentes simultaneamente. Enquanto a radiodifusão brasileira é controlada basicamente por igrejas, políticos e grandes empresários, que conquistam suas concessões através da influência, a webradio acontece livremente, não exige concessão e é relativamente fácil de ser criada por qualquer um.

No caso do jornalismo, a Internet oferece vantagens e desvantagens. Apesar de democrática e de disponibilizar uma ampla gama de conteúdos, já que qualquer um pode divulgar qualquer conteúdo na rede, não há a menor garantia de que haverá retorno, de que o material será acessado. Todo mundo pode publicar, mas nem tudo será lido. Essa amplitude de conteúdos diversos representa uma desvantagem, pois existem milhares de conteúdos disponíveis e não há como determinar quais são os mais adequados ao leitor, nem a veracidade dos seus conteúdos. Esse fim da hierarquização, assim como a saturação de informação, provoca uma queda na credibilidade.

A relação emissor-receptor é essencialmente diferente entre rádios hertzianas e webradios. A relação emissor-receptor mediada por uma rádio hertziana é passiva, na medida em que o fluxo de comunicação segue de forma unidirecional. No caso da webradio, o receptor também atua na interação, provocando uma troca de conhecimentos entre os grupos envolvidos.

Apesar de representar um ambiente livre e democrático, a Internet ainda é um espaço freqüentado diariamente por pessoas com maiores níveis educacional e de renda (fato que determina um público qualitativo). O Brasil possui atualmente cerca de 20 milhões de internautas. O crescimento da quantidade de usuários é cada vez maior e mais rápido, mas ainda há um longo caminho a percorrer, visto que cerca de 65% da população nunca acessou a Internet e apenas cerca de 15% dos domicílios têm acesso à rede.

"A presença da web na vida da sociedade brasileira tem provocado intensos debates e questionamentos acerca da mudança de padrões, da inversão de valores e até da própria sobrevivência de instituições milenares como a família, a amizade ou o casamento. Aos poucos, a internet vai mudando hábitos antes arraigados no cotidiano da população, como na forma de ouvir rádio, fazer amigos, bater papo, namorar, estudar e consultar bibliotecas, já que tudo isso agora se faz navegando pela rede." (PRATA, 2008)

Também vale ressaltar que a Internet está conquistando o público da TV. A migração para a Internet como principal atividade de lazer tem sido cada vez mais intensa. Essa transição rápida preocupa alguns governos e entidades, já que a web é uma área totalmente livre. Isso provoca intensos debates sobre a legitimidade da censura na Internet, que é fortemente defendida por uns e rejeitada por outros.

A usabilidade é um ponto fundamental no que diz respeito à aparência da página onde a webradio (ou qualquer outra homepage) está hospedada. A página deve ser prática, intuitiva, confortável e bonita para deixar o usuário confortável ao acessá-la. Existem estudos aprofundados sobre a questão da usabilidade e eles devem ser levados em consideração ao elaborar uma homepage. O usuário precisa se sentir confortável ao acessar uma página para se manter navegando por ela e repetir o acesso posteriormente.

O rádio sempre foi um veículo de fácil acessibilidade, pois exige apenas a audição do receptor. No caso da webradio, o conteúdo auditivo pode ser complementado por imagens, textos, ou vídeos, que representam elementos adicionais, mas não interferem no sentido da experiência auditiva, que é a essência do rádio. Embora haja uma ampliação das possibilidades de recursos, o rádio precisa acontecer, enquanto experiência completa e coerente, através apenas do sentido da audição.

Enquanto o rádio comum acontece através da transmissão hertziana, orientada através de concessões cedidas pelo governo, a webradio possui suas próprias características. São elas:
1. existência exclusivamente na Internet;
2. linguagem oral, cada vez mais complementada por elementos multimídia;
3. suporte fixo, característica momentânea, pois já estão sendo fabricados receptores de webradios, ligados à Internet;
4. baixo custo para sua existência e em pouco tempo seu acesso será de baixo custo também, com a massificação de receptores ligados à Internet;
5. transmissão em tempo real, de programações simultâneas alternáveis;
6. possibilidade de acesso às transmissões anteriores;
7. apelo sensorial estritamente auditivo;
8. autonomia, que permite a experiência individual da audição e permite que o emissor fale com o público como se tivesse falando em particular.

Ainda em fase de transição, já podemos esboçar os principais pressupostos desse novo modelo de radiodifusão: transmissão digital (através de bits, em vez de ondas), interatividade constante (o usuário é ativo: produz, procura e consome), menor fidelidade do público (resultado da multiplicação de opções e da segmentação) e possibilidade do uso ou transmissão de imagens e texto.

Apesar do próprio modelo não favorecer a massificação de uma determinada webradio, a própria tecnologia ainda não permite isso, pois a quantidade de ouvintes simultâneos ainda é limitada pelo servidor. O fator multimídia oferece recursos extras, como a imagem ilustrativa de uma determinada notícia narrada, ou as informações sobre a faixa musical executada, entre as mais variadas possibilidades.

Porém, existe o risco da vasta gama de possibilidades saturar a transmissão, que deve ser essencialmente radiofônica. E esta condição seria desfavorável à webradio, que poderia ser deixada em segundo plano no meio de diversos recursos a ela associados.

Na questão conceitual, as mudanças são tão profundas que geram dúvidas quanto à legitimidade do modelo radiofônico. Questiona-se se as novas tecnologias podem ser enquadradas enquanto radiofonia ou se constituem uma nova mídia ainda sem definição. As tendências convergentes são evidentes e estamos nitidamente caminhando para a era do tele-tudo (equipamentos definidos por André Lemos como tecnologias que vão unir telefone, TV, rádio, câmera, Internet, entre outros recursos). Porém, ainda podemos determinar limites pro que é considerado radiofonia.

"Meio de comunicação que transmite informação sonora, invisível, em tempo real. A informação sonora poderá vir acompanhada de textos e imagens, mas estes não serão necessários para a compreensão da transmissão." (PRATA, 2008)

Essa definição exclui os Podcasts, os iPods e qualquer transmissão que não seja feita em tempo real. Portanto, podemos concluir que a webradio é a comunicação que se concretiza através do áudio (podendo contar com recursos extras), produzida através da tecnologia digital, transmitida em tempo real por meio da Internet. Essa nova tecnologia reflete a migração das atividades humanas e sociais para os ambientes da Internet, provocadas por diversas vantagens e facilidades oferecidas pela rede. A tendência geral é de convergência de mídias e expansão da Internet para todos os setores da vida humana, de forma que ela se integre de tal maneira ao cotidiano que não possa mais ser dissociada e se torne um recurso natural e comum. A webradio, resultado da fusão do rádio com a Internet, é um dos primeiros passos que marcam essa fase de transição. Não há como prever as conseqüências de todas essas mudanças, mas podemos afirmar que a humanidade nunca mais será a mesma.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

KUHN, Fernando. O rádio na Internet: rumo à quarta mídia. Campinas-SP: Dissertação de mestrado da Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Artes, 2000.

LEMOS, André. Cidade-ciborgue. A cidade na cibercultura.

LEMOS, André. Cibercultura e mobilidade: a era da conexão. In: RAZÓN Y PALABRA. Out/Nov 2004.

PRATA, Nair. Webradio: novos gêneros, novas formas de interação. Belo Horizonte: Tese de Doutorado da Faculdade de Letras da UFMG, 2008.

Artigo elaborado para pesquisa coletiva sobre webradio

Bytes

O grito virtual percorre a rede e reflete em superfícies de dígitos binários. Essas cavernas onipresentes são caracterizadas por aquele silêncio absoluto, típico das multidões virtuais. O grito ecoa e produz sua própria resposta. Assim como uma imagem refletida entre espelhos posicionados em angulação aguda. Resposta silenciosa para um grito calado pela frieza de um monitor brilhante, que exibe a interface da rede social do momento. Essas redes sociais massivas são as típicas responsáveis pelo silêncio absoluto, que acaba soando mais intenso que uma torcida organizada no Maracanã. A presença de quaisquer pessoas ao redor desses espelhos em angulação aguda não interfere em nada na singularidade da figura refletida incessantemente. A onipresença desse silêncio ameaçador se estende ao infinito, ao oito deitado, às reticências. E aqueles que são falantes da língua portuguesa acreditam que tudo isso pode ser sintetizado em apenas oito letras. As multidões virtuais adotaram a rede para se conectar ao infinito. Um infinito que é construído a partir de zeros e uns. Conjunto vazio, conjunto unitário. É a configuração física da vida social do usuário, limitada a duas opções: vazio ou solidão. E à combinação de vazios e solidões aleatórios e sequenciais. Mas a ilusão é maior que tudo. E o volume de zeros e uns é suficiente para convencer de que há alguma solidez nessas superfícies. Mas os pés não encontram firmeza. A insegurança produz um grito tão virtual quanto todo o resto. O grito volta, que nem e-mail que não pôde ser entregue aos destinatários. Ninguém ouve e, se ninguém nota, então não existe. Não é listado no Google, nem no YouTube. E o tombo é daqueles, do tipo que só pode ser apreciado com várias voltas de scroll. Mas, como são várias unidades caindo simultaneamente pela imensidão do vazio infinito, o referencial adotado por qualquer unidade sempre oferecerá a impressão de inércia, com a qual as unidades se satisfazem. É confortável fazer parte dessa multidão virtual e a insegurança acaba sendo esquecida nos momentos de maiores taxas de serotonina, provocadas pela sensação vazia de inserção. No final das contas, todos acabam se contentando em ter o privilégio de ocupar um lugar nesse espaço virtual. E o eco surdo-mudo se perde em meio ao desconforto produzido pelo deslocamento negativo de uma faísca de consciência crítica autêntica ao longo da massa de pensamento fantoche pré-programado. A tecnologia criou uma sociedade incapaz de formar pares, incapaz de dialogar. Não me prepararam pra essa tecnologia toda. Pra mim, entre zero e um, tanto faz. Não faz o menor sentido. Não sou um computador.

Desabafo visceral