Mundo de Escher faz mágica no CCBB
Maurits Cornelis Escher nasceu em 1898 e viveu até 1972. Durante sua vida, produziu diversas gravuras explorando perspectivas, de forma a criar cenários impossíveis. O artista, ao explorar padrões matemáticos empíricos, produzia imagens tão surpreendentes que garantiram a ele a pecha de “ilusionista” ou “mágico”. Apesar de todo esse talento, o Escher só ganhou notoriedade com a popularização do movimento Op-art, no qual diversos artistas exploraram as mais variadas ilusões de ótica, durante a década de 1950.Apesar de sua obra não ser filosoficamente alinhada com o movimento, nem mesmo cronologicamente (Escher já produzia essas gravuras muito antes do surgimento da Op-art), suas gravuras acabam sempre sendo jogadas no mesmo “saco” dos op-artistas. Principalmente pela compatibilidade de conceitos intelectuais por trás dos trabalhos.
Outra face importante do talento de Escher foi o trabalho com padronagens (ou preenchimento regular do plano). O artista desenvolveu belíssimos padrões repetidos, com figuras inusitadas: cachorros, figuras humanas, peixes, lagartos, aves... Se considerarmos que a grande maioria das obras de padrões repetidos da história foram construídas com padrões geométricos simples ou ornamentos básicos geométricos e (principalmente) florais, o valor dos padrões criados por Escher fica ainda mais evidente. O principal destaque é da obra Metamorfose, na qual ele constrói uma narrativa de transformações de padrões em um mesmo plano. Como se estivesse debochando dos padrões mais simples, tais como os listrados, os de bolinhas ou quadriculados. Esse interesse do artista pelo preenchimento regular do plano surgiu durante uma viagem à Espanha, ao entrar em contato com os belíssimos mosaicos e azulejos árabes.
Particularmente, também desenvolvi um forte gosto por azulejos há alguns anos atrás. E minhas pesquisas sobre o assunto me levaram ao trabalho do Escher, meu artista gráfico preferido desde o primeiro contato com sua obra. Quando descobri que seus trabalhos seriam expostos no CCBB, fiquei extremamente eufórica. Mas acabei me frustrando com a exposição. Mais precisamente, com a minha experiência pessoal com a exposição, que foi completamente diferente das minhas expectativas.
De alguns tempos para cá, o CCBB (RJ) investe pesado na divulgação da sua programação: desde o livreto mensal, passando por todo o tipo de anúncio impresso, forte assessoria de imprensa e estruturada presença digital.E vale enfatizar o brilhante painel de lona na fachada do prédio. A intensa divulgação funcionou e agora o CCBB é freqüentado por pessoas que nunca cultivaram o hábito de visitar espaços culturais. Isso seria ótimo, se não fosse esquisito. Para atender ao novo público, as exposições forçam a barra para apresentar um lado lúdico/interativo. Como se a massa não fosse capaz de apreciar a arte estática. Para isso, criam-se instalações e aparatos tecnológicos interativos que não pertencem ao catálogo do artista. E esse “parque de diversões” funciona: as exposições do CCBB agora vivem lotadas. A grande maioria desse público dá mais atenção às instalações e aos “fru-frus” do que à obra legítima do artista. O que é decepcionante para quem quer apreciar o que “realmente interessa”. Foi assim na exposição do Islã e se repetiu com o Escher. No total, fui até o centro cultural por cinco vezes, em um intervalo de 2 meses, e só consegui entrar na exposição uma única vez. A experiência foi desagradável, pois havia fila na frente de cada obra, e até mesmo os corredores da exposição eram desconfortáveis. Uma movimentação típica de shopping em véspera de feriado. Não combina com centro cultural. No penúltimo dia da exposição, fiz a quinta (e última) tentativa. A fila estava pior do que nunca: dava voltas no interior e circundava toda a fachada do centro cultural.
Se por um lado é muito legal saber que as pessoas estão mais interessadas em arte, bate uma certa nostalgia dos tempos em que uma exposição era praticamente “minha”. Pode soar egoísta, mas acredito que a arte deve ser experimentada em um ambiente mais reservado. Talvez a solução seja ampliar o período das exposições. Ou reduzir um pouco a comunicação. O trabalho de M.C. Escher é incrível, mas optei por apreciar através dos livros. No fim das contas, a grande revelação dessa exposição foi a constatação de que algo precisa ser feito para melhorar a experiência daqueles que querem apreciar a arte. Exposição não é feira!
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