Um monte de caracteres. Pra dar preguiça de ler.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Cacilda

Em vez de dormir, eu rodopiava pela cama. Não conseguia desligar. Ele provavelmente estava dormindo na caminha macia dele. E certamente nem imaginava que eu estava ali, deitada, insone, pensando nele. Isso mesmo! Ele tirou o meu sono! E não foi por nada de mais. Ele não fez nada. O que tomava meus pensamentos era a intensidade do que eu sinto por ele. E uma certa dose de medo. Existe uma forma de garantir que um relacionamento dê certo?

As olheiras estamparam a minha cara naquele dia. São poucas as pessoas capazes de notar esse tipo de sutileza. Até porque a maioria sequer olha pro nosso rosto. Ele me ligou pela manhã. Eu estava exausta. Acabei sendo meio fria com ele por causa do cansaço.

Ele não me falou, mas passou algumas horas intrigado com o meu comportamento. Imaginou que eu tivesse conhecido outro, cogitou um desentendimento no ambiente de trabalho e até mesmo uma TPM. Pensou se eu poderia ter sido infiel. Tal possibilidade lhe encheu de tristeza e angústia. Primeiro, porque seria uma prova de falta de amor. Segundo, porque seria o fim do relacionamento. Terceiro, porque seria a revelação de que eu não sou nada do que ele imagina.
E passou a tarde contemplativo.

No fim da tarde, um amigo ligou e convidou pra um boteco. Depois de ser xingado de "bichinha" e "viadinho" gratuitamente, ele concluiu que seus pensamentos estavam femininos demais e que não valia a pena se estressar por "uma simples TPM". E foi pro boteco. Ficou por lá mesmo. Ele não queria voltar a ter espaço para pensar sobre essas coisas de "viadinho".

Já estava ficando tarde e eu me sentia pior a cada minuto. "Ele esqueceu de mim". "Ele tá com outra". "Ele não me procurou até agora simplesmente porque não quer falar comigo".

Ele tinha medo de me ligar e eu não estar em casa.

Fiquei triste, carente. Resolvi recorrer ao passado: lembranças, fotos, agenda.

Agenda.

Liguei pra alguns deles. Alguns ex's, outros quase-ex's e outros quase-quase-ex's. No final, me sentia ainda pior.

Ele ligou quando chegou em casa. O telefone estava ocupado. Pra não pensar besteira, preferiu dormir logo.

Eu tive uma crise nervosa. Chorei a noite inteira. E ele, mais uma vez, nem imaginou.

No dia seguinte, culpado pelo porre, ele me ligou. Foi extremamente carinhoso. Saquei que havia alguma coisa errada. Com muita raiva no coração, saí pro primeiro bar que apareceu na minha frente e ia beijar o primeiro otário que me pagasse cerveja. O otário pagou. Mas eu não consegui. Foi horrível! Senti um nó no meu peito. Doeu de verdade.

Foi assim que eu percebi que o amo. Ou, pelo menos, amo o que eu imagino que ele seja. Se ele não for o cara legal que eu imagino, então eu simplesmente não o amo.

Ele ainda não sabe que me ama. É homem demais pra pensar sobre isso. Homem de verdade só percebe o quanto ama quando perde. E só perde por culpa exclusiva desse descaso todo.

É... Chegou a hora de terminar.