Um monte de caracteres. Pra dar preguiça de ler.

domingo, 18 de maio de 2008

A tara

Era um daqueles caras comuns, que parecem meros figurantes da nossa vida. Ele tinha a vidinha dele, os amigos de infância, aquela coisa limitada e familiar. E ele até gostava disso tudo. Porém, por trás daquele visual neutro, ele fantasiava com mulheres alternativas, com piercings e, principalmente, tatuagens. Era uma tara que começou ao ver uma punk no metrô e se estendeu ao material pornográfico que ele buscava na internet.

A vida dele mudou quando descobriu o Suicide Girls. Virou assinante e dedicava boas horas do dia à masturbação atlética. Era seu único vício na vida. Mas que vício!

Com o tempo, foi se afastando da família, dos amigos e de tudo. Seu rendimento profissional caiu e o pensamento era fixo: tatuadas. Mas ele não sabia onde encontrar essas mulheres tão perfeitas. Como falei, ele não vivia o meio alternativo. Não frequentava o monopólio da Casa da Matriz. Não usava óculos de aro grosso, nem as roupas da moda. Na verdade, nem sabia que isso era pré-requisito para entrar nesse mundinho. Até porque ele não sabia que esse mundinho existia.

Certo dia, resolveu se tatuar. Ficou com tanto medo, que optou por um tribal pequeno, escondido no ombro. Nenhuma mulher pisou no estúdio enquanto ele se tatuava. Isso só aumentou a frustração. Ele esperava encontrar uma mulher durante o processo. E não funcionou.

Mas não foi em vão. Ele foi convidado pelo tatuador para um evento de moda alternativa. E compareceu, óbvio. Foi a primeira vez que ele se viu num ambiente cheio de mulheres tatuadas. O nervosismo tomou conta e ele não conseguiu interagir com ninguém. Só com uma menina, logo na entrada, que torceu o nariz quando ele não quis mostrar a tattoo por vergonha. É, ele tinha vergonha de mostrar os ombros.

Fracassado, resolveu optar por outro recurso. A feira serviu para que ele descobrisse que as tatuadas eram adeptas do Orkut e Fotolog. E tratou de criar suas contas nos dois sites. Ah, e uma conta de msn!

Como todo novato, optou por se esconder atrás de fotos do que ele idealizava ser. E isso atraiu várias tatuadas. Em poucas semanas, já estava apaixonado por uma garota que tinha várias tatuagens e dizia ter 19 anos. Marcaram um encontro.

Encontraram pessoas diferentes do esperado. Ele não era aquele "Alexandre Frota" da foto. Ela também não era aquela "Suicide Girl" e certamente era menor de idade. Mas ele decidiu investir mesmo assim. Só porque confirmou que realmente existiam tatuagens no corpo da menina - apesar da camiseta dela ter mostrado apenas meio milímetro.

O namoro se estendeu por meses e nada de sexo. Na verdade, descobriu que ela era uma virgem de 15 anos. Ele, apaixonado pelas tatuagens que ainda não tinha visto, insistiu no relacionamento e decidiu esperar pela menina. Só a idéia de descobrir as tatuagens dela já era suficiente para garantir sua felicidade.

Meses depois, aconteceu. Ele levou a menina para um motel - tosco, até - e tirou sua camiseta. Foi quando ele deu de cara com o Huguinho, o Zezinho e o Luisinho, espalhados pelo corpo da menina. Ele ficou todo arrepiado. Broxou, claro. O amor acabou na mesma hora. Apesar da vontade de fugir, ficou abraçado e deixou a menina em casa. Mas nada de sexo.

E sumiu. Mesmo.